O objectivo principal deste estudo será o de investigar os impactos na saúde de eventos extremos em Portugal. Estes eventos extremos incluem as ondas de calor, vagas de frio, fogos florestais e secas prolongadas. Em relação às ondas de calor e vagas de frio pretende-se fazer um estudo diagnóstico para o passado recente (últimos 25 anos) desenvolvendo modelos que relacionem séries temporais de mortalidade e morbilidade diária com as condições meteorológicas e de poluição envolventes. Numa segunda fase, estes modelos podem ser utilizados para aferir o impacto na saúde dos cenários de alterações climáticas provenientes dos modelos climatológicos mais recentes. Isto será feito usando métodos de análise epidemiológica padrão (recorrendo à modelação das séries de dados usando técnicas multifactoriais como os modelos lineares generalizados e as séries temporais (incluindo modelos ARIMA e modelos estruturais). Esta investigação focalizar-se-á na vulnerabilidade da população aos períodos extremos de frio, em impactos da saúde das exposições elevadas de poluição do ar (por exemplo ozono e presença de partículas) associadas com as temperaturas extremas do ar e com a ocorrência de fogos florestais, e nos impactos indirectos da seca na saúde (explorando a ocorrência de padrões entre índices de seca e ocorrência de doenças infecciosas).

É de salientar que em relação à análise dos efeitos (directos ou indirectos) na saúde, dos grandes incêndios florestais e dos anos de seca, esta terá apenas carácter de diagnóstico e de caracterização dos eventos ocorridos, pois a alteração da frequência/magnitude destes fenómenos com base nos resultados cenários de alterações climáticas apresenta limitações técnicas que são essencialmente de compreensão da evolução de factores sociais (e.g. alterações substanciais do uso do solo, coberto vegetal, zonas urbanizadas, meios e organização no combate aos fogos, etc.).

Em Portugal a maior parte dos estudos sobre impactos de episódios de ondas de calor na saúde focam-se no relacionamento entre a mortalidade diária com máximos diários das temperaturas do ar [Garcia, et al., 1999]. Baseado nestes estudos, um sistema de vigilância e alerta de ondas de calor com potenciais impactos na saúde humana foi estabelecido [Nogueira, 2005] e integrado no "Plano Nacional de Contingência parágrafo como Ondas de Calor". Afigura-se como sendo bastante relevante apostar na necessária investigação adicional para estabelecer sistemas similares para outros eventos climatológicos extremos perigosos e para obter uma melhor compreensão do impacto de outras variáveis climáticas durante períodos de ondas de calor. Julgamos ser de interesse público evidente, desenvolver um índice semelhante para as situações críticas de frio no Inverno. Por outro lado, afigura-se como imprescindível a inclusão de variáveis ambientais relativas a poluentes que podem exacerbar os efeitos dos extremos térmicos (particularmente o ozono troposférico, os NOx ou as partículas).

Um segundo objectivo é o da estimação e caracterização da carga/custo (burden) de episódios de acontecimentos climatológicos extremos (ondas de calor e ondas de frio) na saúde usando medidas de saúde populacionais como os potenciais anos de vida perdidos (YLLs), os Anos de Vida Ajustados para a Incapacidade (DALYs) e Anos de Vida Saudável (HeaLYs).

Outro objectivo, o terceiro, será caracterizar a saúde da população em períodos mais e menos secos, para estabelecer conhecimento que permita obter modelos e cenários de outputs de saúde em períodos de seca agravados (como o actual) e possibilitar os verdadeiros outputs de saúde quando estiverem disponíveis (o que não acontecerá durante a vigência deste projecto). Para isso serão caracterizados períodos de tempo em termos climatológicos, definindo períodos mais secos e menos secos que serão correlacionadas com outputs de saúde (mortalidade, internamentos hospitalares e procuras de cuidados de saúde) e eventual construção de modelos que controlem níveis de temperatura, estações do ano, períodos de férias, e ocorrências de gripe, etc.

Este trabalho tem como objectivo final a avaliação do possível incremento na mortalidade e quando possível na mobilidade associada ao aumento de eventos climáticos extremos, em particular da frequência de ondas de calor que se prevê que venha a ocorrer num clima futuro. Para este efeito serão utilizados os modelos de predição da doença estabelecidos neste projecto com as saídas (resultados) de diferentes modelos climáticos de escala global (GCM) bem como de escala regional (RGM), provenientes do Hadley Centre (Reino Unido).